Oportunidade de mercado, fertilidade de solo, carbono zero e sistemas de produção integrados e sustentáveis foram algumas das palavras chaves que produtores rurais, estudantes, e visitantes do Showtec 2018 ouviram ao longo da tarde de quinta-feira, dia 18, durante a realização da segunda parte do painel Sistemas de Produção em Mato Grosso do Sul, Desafios e Soluções. O painel foi moderado por André Dobashi, da Fundação MS. A feira continua até esta sexta-feira (19), em Maracaju, trazendo inovações tecnológicas para o campo.
Os gases emitidos pela agropecuária como metano, óxido nitroso e dióxido de carbono, conhecidos como Gases de Efeito Estufa (GEE), contribuem com mudanças climáticas que podem impactar o futuro das áreas produtivas. Porém, estudos conduzidos por pesquisadores da Embrapa, em Mato Grosso do Sul, demonstram que a Integração Lavoura Pecuária (ILP) é uma das formas de reverter esse quadro. “As principais fontes de emissão de gases na agropecuária são as queimadas, revolvimento do solo, adubação nitrogenada, processo digestivo de ruminantes, arroz irrigado e uso de maquinários agrícolas”, explicou a pesquisadora da Embrapa Agropecuária Oeste, Michely Tomazi, em sua palestra intitulada “Emissão de carbono em sistemas de produção agropecuária”.
Ela falou da importância da atividade rural desenvolvida em Mato Grosso do Sul que pode vir a ser uma forte aliada para contribuir com os resultados de redução da emissão de carbono. “Existe uma necessidade mundial de reduzir as emissões de GEE e cada nação está contribuindo com sua parte. No caso do Brasil, o acordo que foi o Acordo de Paris, assinado em 2015, estabelece como meta reduzir as emissões em 37% até 2020, baseado nas emissões que existiam em 2005”, disse a pesquisadora.
Para Michely o que a princípio pode parecer um problema para o Brasil e que demanda um grande desafio em relação às transformações no campo, inclusive, no Mato Grosso do Sul, pode ser uma grande oportunidade de mercado com amplo diferencial e explicou “o Brasil é um grande produtor de alimentos que exporta muito e boa parte dos produtos são vendidos para o mercado internacional. Podemos pensar nesse assunto de forma estratégica para conquistar esses mercados com presença de consumidores qualificados, que estão cada vez mais exigentes, demandando produtos ambientalmente sustentáveis e que não emitam carbono”.
Ela mostrou imagens de alguns rótulos de produtos que trazem informações relacionadas à Pegada de Carbono, conhecida internacionalmente como ‘C Footprint’, ou seja, informando a quantidade emitida de dióxido de carbono.
IPL – Em sua palestra, intitulada “Estoque de carbono no solo em sistemas de produção”, o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Julio Cesar Salton, demonstrou de que forma os problemas gerados pela emissão de gases na agricultura podem ser solucionados por meio do uso dos sistemas integrados de produção. “Esses sistemas podem ainda agregar valor ao produto, melhorar a qualidade do solo e garantir a fertilidade do mesmo”, acrescentou Salton.
“Há muito tempo a agricultura se baseia no aumento do carbono, não chamando ele de carbono e sim de matéria orgânica. Se beneficiando da mesma por meio do aumento de produtividade, através do plantio direto. O carbono é o principal componente da matéria orgânica, que é conhecida de todos”, informou o pesquisador.
Segundo Salton, os sistemas que possuem pastagens de forma integrada as lavouras, como é o caso da Integração Lavoura Pecuária (ILP), contam com pastagens que possuem muita parte aérea e longas raízes, e que por meio da fotossíntese, capturam o dióxido de carbono e fixam no solo.
“Um solo exposto, com erosão, perde matéria orgânica e quando isso ocorre a fertilidade e a sustentabilidade são prejudicadas. Num sistema com resíduos, palhas e raízes existe uma intensa atividade biológica, aumentando a matéria orgânica, a capacidade produtiva dos solos e contribuindo com o sequestro de carbono. Os solos com mais matéria orgânica apresentam resultados diferenciados, são sustentáveis e beneficiam toda a sociedade”, disse o pesquisador.
Ele finalizou explicando que “manejar o carbono do solo é manejar a matéria orgânica, ou seja, quando eu tenho um sistema em que a saída é maior que a entrada, buscando acelerar a decomposição, estou perdendo carbono. Assim, é preciso reduzir a saída de carbono do solo e aumentar a entrada de mesmo para que o estoque de carbono seja equilibrado”.
A última palestra do painel foi proferida pelo pesquisador da Embrapa Gado de Corte, Manuel Claudio Motta Macedo. Em sua palestra, intitulada “Fertilidade de solo em sistemas de integração”, ele explicou que a integração de sistemas possibilita o uso eficiente de nutrientes do solo.
“As culturas em geral desempenham um papel muito importante em relação a melhoria e construção da fertilidade do solo, amortização dos custos de renovação das pastagens com a venda dos grãos das culturas anuais. As pastagens, por sua vez, tem um papel fundamental na melhoria das propriedades físicas, ciclagem de nutrientes, redução de plantas daninhas, quebra do ciclo de pragas e doenças e recuperação de nutrientes”, disse Macedo.
Sobre o Showtec – O Showtec é uma feira anual onde são apresentados produtos e serviços ligados ao setor agropecuário, lançamentos, inovações tecnológicas, sistemas de produção, palestras técnicas e resultados de pesquisas que contribuem para a sustentabilidade do segmento. A feira é destinada aos produtores e empreendedores rurais, técnicos agrícolas, acadêmicos, entre outros, e leva informações de forma direta e aplicável.
O evento é realizado pela Fundação MS e promovido pelo Sistema Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de MS), Sistema OCB/MS (Organização das Cooperativas Brasileiras) e Aprosoja/MS (Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul), contando com patrocínio do Senar/MS (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural). O Showtec conta, ainda, com o apoio do Sicredi, A Granja, Agrisus, Embrapa, Fundems, Semagro, Caixa Econômica Federal e Prefeitura Municipal de Maracaju.