Produtores brasileiros ainda não adotam estratégias bem definidas de comercialização da produção agrícola, o que acaba por colocar em risco suas margens de lucro, aponta o relatório Agri Focus, divulgado pelo Rabobank nesta segunda-feira, 5. “Muitos ainda realizam a venda da soja baseada exclusivamente na intuição ou em conceitos desatualizados, assim como se fazia décadas atrás”, disse o banco no relatório.
Uma das práticas questionadas pelo Rabobank é o adiamento da venda da oleaginosa para o segundo semestre quando, acreditam os agricultores, os preços ficam mais altos do que no período da colheita ou antes dela. Mas o esperado aumento nem sempre ocorre, conforme levantamento do Rabobank.
Dos últimos dez anos, somente em quatro (2010, 2012, 2013 e 2015) os preços subiram significativamente no período, sustentados por eventos como perdas de produtividade em importantes países produtores, que elevaram as cotações na Bolsa de Chicago (CBOT), e altas do dólar ante o real, que aumentaram os preços no mercado interno.
“Nos demais anos, a diferença foi mínima. Em 2008, 2009 e 2014 chegaram a ser, inclusive, levemente menores na segunda metade do ano”, informou o banco.
A instituição lembra que dos três fatores que influenciam os preços da soja no mercado interno – cotações na CBOT, câmbio e desconto de base (basis, desconto entre os valores em Chicago com base em prêmios pagos nos portos e valor do frete), é o terceiro que apresenta “claramente um comportamento sazonal”. Durante a colheita da soja na América do Sul, especialmente entre fevereiro e abril, o frete sobe com a maior demanda por transporte para os portos e a movimentação nestes terminais aumenta, o que pressiona os prêmios portuários.
“Dessa forma, manter o produto físico para venda exclusivamente na segunda parte do ano pode não excluir riscos. Além de não ter garantia de preços superiores, carregar a soja por meses gera custos de armazenamento e oportunidade do capital, que poderia ser aplicado em uma forma alternativa de investimento”, alertou o banco.
Para evitar tais riscos, o banco orienta a adoção de estratégias de comercialização, também conhecidas como políticas de hedge. Para tanto, produtores devem fazer uma boa apuração dos custos de produção e calcular o “preço-alvo” do produto, baseado em uma margem de lucro esperada, diz o banco.
O valor vai orientar as vendas antecipadas, antes da colheita. O Rabobank também recomenda definir lotes de soja a serem negociados periodicamente e não concentrar as vendas em um ou poucos períodos. “Não existe uma regra pré definida. A disciplina na venda, de acordo com os índices definidos, é o principal ponto que deve ser respeitado para obter maior efetividade nos resultados.”
O estudo simula os resultados obtidos por dois produtores rurais de Sorriso (MT). Um negocia seu produto baseado na intuição e acreditando na alta dos preços no segundo semestre. O outro define seu custo produção ao fim de junho, após ter adquirido insumos, e uma estimativa do custo por saca baseado na produtividade esperada. Faz a comercialização em períodos definidos de julho a janeiro, em vendas de 14 lotes de soja a cada 15 dias, que totalizam 70% da produção estimada. Pelo risco de eventuais quebras de safra, produtores não devem vender antecipadamente toda a soja projetada, alerta o banco.
Pelo estudo, o agricultor sem a política de comercialização obteve uma margem de lucro média de 27% com um desvio padrão de 13 pontos porcentuais. Com a estratégia de venda, além de obter uma margem média superior, 31%, o desvio padrão cai para 9 pontos porcentuais. “A política de comercialização também se mostrou uma ferramenta interessante de redução da volatilidade das margens”, concluiu o banco.